Introdução
“O que sentem os animais?” é o título dado para o livro “How Animals Grieve” (literalmente: “Como os Animais Sofrem”), na tradução de Bruno Casotti, para a Odisseia Editorial, em 2014.
É um livro que vai mudar o modo como o leitor vê os animais, e pode ajudar no esclarecimento de dúvidas daqueles que buscam aprender a viver com menos exploração do sofrimento animal. Baseado em observações científicas, recheado de relatos, exemplos e comparações, o conteúdo leva o leitor a refletir, de modo sério, sobre o sentimento de amor e luto em animais de estimação, cabras, galinhas, patos, cavalos, bois, vacas, coelhos, porcos, elefantes, chimpanzés, dentre outras espécies [1].
De leitura acessível, com linguagem voltada para o público fora do meio científico entender, será mais um livro enriquecedor do seu conhecimento, levando você a ter mais base para se convencer de mudar para uma alimentação vegetariana ou para não possuir animais selvagens em cativeiro. Além disso, propiciará que seus diálogos tenham argumentos mais sólidos, contra os de pessoas insistindo para você continuar consumindo carne e derivados.
Sobre a Autora
Em suma, Barbara J. King é antropóloga e professora emérita na Faculdade de William e Mary. É autora de sete livros. É palestrante e escreve artigos científicos, tendo como foco a emoção e o conhecimento nos animais, a ética do relacionamento humano com os animais, a história evolutiva da linguagem, cultura e religião [2].
Sumário do Livro
Prólogo: sobre a perda e amor
1. Chorando a morte da gata Carson
2. O melhor amigo de um cão
3. Luto na fazenda
4. Por que coelhos ficam deprimidos
5. Ossos de elefantes
6. Macacos sentem a dor da perda?
7. Chimpanzés, cruéis para serem gentis
8. Amor de aves
9. Mar de emoções: golfinhos, baleias e tartarugas
10. Sem limites: luto interespécies (sic)
11. Suicídio animal?
12. O luto dos macacos
13. Sobre a morte de bisões em Yellowstone e obituário de animais
14. Escrevendo sobre o luto
15. Varrer o luto com o tempo
Review: O que sentem os animais?
Não parece ser uma questão meramente de elementos químicos observados pelos sentidos de insetos e animais, mas de uma certa complexidade cognitiva. Isto é evidenciado por meio da observação de variados comportamentos animais voltados para o luto, a separação e o reencontro. Neste livro há diversas histórias e relatos, bem como uma seção para a indicação de outras fontes de leituras e recursos visuais.
Uma das coisas que se aprende, é que não se deve fazer comparações entre comportamentos de espécies diferentes, valorizando uma em detrimento da outra, pois elas têm seus modos distintos de comunicação dos sentimentos. Ou seja, os chimpanzés têm a habilidade de construir ferramentas, as cabras e galinhas não, entretanto, tais animais possuem suas capacidades intrínsecas de sentir; o luto de um não é o luto do outro. Por outro lado, analisando os comportamentos em uma espécie em específico, não é válido supor que todo e qualquer animal aja demonstrando o luto ou perda, mas parece que isso também pode ser notado em seres humanos, como bem descrito por Barbara.
Com efeito, a autora possui o desejo de provar a vida emocional em cada espécie, preocupando-se com o fato de ela ser uma antropóloga, honrando muito bem a singularidade dos humanos. Deixa claro que não se deve antropomorfizar excessivamente o significado do “amor” nas relações animais, contudo, esperando atingir uma relação mais clara entre luto e amor e vice-versa; tais sentimentos estariam imbricados, isto é, o sentimento de amor levaria ao sentimento de luto. “[…] RECONHECER QUE NÓS, HUMANOS, PENSAMOS E SENTIMOS DE MODO DIFERENTE DE OUTRAS CRIATURAS VIVAS NÃO PRECISA SER O EQUIVALENTE A UM MANIFESTO DA SUPERIORIDADE HUMANA.[…]”king, 2014, PG. 184.
As primeiras histórias são sobre a convivência de gatos, e isso é proposital por causa da ideia de que gatos teriam uma personalidade “indiferente” e “independente”. Um dos relatos é sobre duas gatas irmãs que convivem em uma casa com seus donos. Entre as ausências de uma das felinas, por conta de idas ao veterinário, a outra comporta-se de modo peculiar. Com o tempo, uma delas morre gerando comportamentos mais fortes na outra, muito diferentes de quando aconteciam, apenas, distanciamentos curtos. Será que a colocação de outra gata, esperando substituir a que morreu, melhoraria a situação? A partir daí, com a ideia de introduzir ou complementar a questão da substituição, há um pequeno relato do comportamento de um boi, em uma fazenda, ao se deparar com um parceiro diferente do habitual.
Ora, outra gata foi adotada e os donos esperavam que algo parecido com os resultados de experimentos de separação, feitos com macacos na década de 60, fossem vivenciados. O referido experimento é abordado de modo resumido, mas o suficiente para dar uma ideia dos comportamentos causados pela substituição de indivíduos.
Por toda a leitura, a autora levanta pontos de vista interessantes, bem como questionamentos que nos levam a pensar um bocado. Ela faz analogias com casos diversos de mesma espécie, consanguíneos ou não. Além disso, explana sobre acontecimentos que extrapolam as espécies como as entre gatos e cães, cães e humanos, elefantes e cães (Tarra and Bella), hipopótamo e tartaruga, urso polar e cão etc, visando ao reforço das suas ideias.
Obviamente, assim como para os gatos, há um capítulo dedicado aos cães. Aqui, constam relatos surpreendentes e achei incrível o caso sobre um cão ter desenterrado seu companheiro, um outro cão que foi considerado morto por seus donos após ter sido atropelado, dando a impressão de querer “reanimá-lo”. A escritora indica que cães parecem ter algo de especial em amor, inteligência e dedicação. Porém, teriam a intuição de pressentir a morte de outro cão? Ou preverem que seus donos estão para chegar do trabalho ou de uma viagem? Ora, também há relatos e experiências na tentativa de construir respostas nesse sentido. E a história do gato (Oscar) que parecia prever a morte de idosos de uma casa de repouso? Nesta parte, lembrei-me do livro (que virou filme) Dr. Sono do Stephen King. Sim, Stephen King gostou tanto da história do gato Oscar que se baseou nela para um de seus livros.
Como dito anteriormente, as coisas não ficam apenas em torno de gatos e cachorros. Na sequência, há capítulos destinados aos cavalos, coelhos, elefantes, símios, aves, golfinhos, baleias e tartarugas. Todavia, no decorrer dos textos, ocorrem menções a outras espécies e, assim, o conteúdo torna-se muito rico em detalhes e variações. São relatos ricos e curiosos, como no caso dos elefantes que reconhecem os ossos sendo de seus parentes e agindo de modo peculiar. Ou como no modo de agir das mães macacas que carregam seus bebês mortos por horas, dias ou meses. Ou como um cisne vira amigo inseparável de um pedalinho e da gansa que escolhe uma fita de vídeo para assistir com uma mulher. São apenas alguns dos exemplos das várias ocorrência no texto.
Em “O que sentem os animais?”, o leitor vai variar o humor com momentos de reflexão, diversão, tristeza, raiva e perplexidade. Claro, dependendo do interesse que possa ter pelos animais e das interpretações e entendimentos inerentes do sujeito. No final, inevitavelmente, aprende-se que os seres humanos não devem ser os únicos munidos de emoções oriundas do amor e do luto. Ora, em muitos casos, identifica-se e trata-se a depressão em equinos e coelhos. Além do mais, sem incorrer na universalização, ou seja, com a consciência de que nem todas as criaturas, de qualquer espécie tratada nos estudos que o livro indica, agem em conformidade com uma regra geral.
Todavia, ao concluir a obra, a antropóloga enfatiza o quanto nós, humanos, somos singulares nesse aspecto, principalmente, por conta da nossa autoconsciência e do poder que temos de “criar vida” nos colocando lá no futuro ou no passado. Temos, de fato, o poder de sentir e comunicar de várias maneiras nossos sentimentos de amor e luto, além disso, através de milhares de anos.
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Referências
1. KING, B. J.. O que sentem os animais?. Tradução: Bruno Casotti. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Odisseia, 2014.
2. BARBARA J. KING. about. Disponível em: <https://www.barbarajking.com/about/>. Acesso em: julho de 2021.